(1) A bomba ter estourado em Temer e Aécio não prova que a
Lava Jato não é parcial. A essa altura do campeonato, está mais do que
evidente de que ela foi uma co-produção de polícia, judiciário e mídia
com o objetivo de derrubar Dilma e destruir o PT (e se possível o resto
da esquerda). O que a delação de Joesley Batista mostra é que os
conflitos internos nessa coalizão estão cada vez menos controláveis. E
que o juiz Sérgio Moro não determina tudo.
(2) Enquanto a mídia reclama pelo gesto de “altruísmo” que seria a
renúncia, Michel Temer se aferra ao cargo. Seu trunfo é o prosseguimento
do desmonte dos direitos. Ele aposta que, quanto mais a pressão por
diretas crescer, mais sua permanência no cargo se tornará palatável para
as classes dominantes. Afinal, o que elas mais temem é dar alguma voz
ao povo nesse processo.
(3) Diante da impossibilidade crescente de sustentar a presidência de
Temer, o custo de recusar eleições diretas é grande. Mesmo expoentes da
direita, desde que tenham ambições na política eleitoral, são sensíveis
a isso, como mostram as declarações de Ronaldo Caiado ou Reguffe. A
relutância do usurpador em renunciar faz com que as diretas se firmem
como possibilidade. O ideal, para os donos do poder, seria uma solução
rápida (e indireta) para a sucessão.
(4) Essa tensão interna ao golpísmo abre uma oportunidade para que o
campo popular passe à ofensiva. Todo mundo tem uma boa razão para o
“fora Temer”: a classe trabalhadora, as mulheres, a população negra, os
povos indígenas, os gays, lésbicas e travestis, a juventude, a
intelectualidade, a comunidade científica… É hora de juntar essas razões
e fazer a pressão aumentar.
(5) A boataria de ontem à noite era de que hoje a bomba da JBS
atingiria Lula e Dilma. É esperar para ver. Nada muda o principal: não
se pode usar o judiciário para promover uma perseguição política, não se
pode condenar alguém sem provas. O eventual surgimento de evidências
contra Lula hoje ou amanhã (não estou dizendo que elas realmente
surgirão) não apaga ou absolve a perseguição imotivada que ele vem
sofrendo até agora.